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Ensaios-->Opressores e oprimidos: uma leitura de Vidas secas -- 04/02/2002 - 17:57 (Leonardo Almeida Filho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
INTRODUÇÃO


“Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos” . Assim tem início Vidas Secas, um dos romances mais populares de Graciliano Ramos, traduzido para diversas línguas, objeto de estudo para vestibulares, tema recorrente em salas de aula em todo o país. Uma obra que, apropriada pelo cânone, representa o chamado romance regionalista, especificamente o romance nordestino da década de 30.

A saga da família de retirantes, narrada com o peculiar estilo do autor alagoano, caracterizado pela linguagem enxuta e direta, a economia de adjetivos e descrições, a quase ausência de diálogos, nos envolve e no remete diretamente a seu conteúdo manifesto: a árdua batalha do homem nordestino diante da miséria e do flagelo da seca. Este tem sido o mote (apropriando-me do jargão da cantoria nordestina) que alimentou e alimenta – e certamente continuará alimentando – os incontáveis ensaios publicados (ou não) sobre a obra.
Permito-me neste estudo visualizar o texto de outro ângulo, tentando entender a sua utilização pelo cânone e, mais que isso, resgatar elementos que, ocultos pela camada textual aparente (conteúdo manifesto) estão a exigir sua leitura. É óbvio que para esse mergulho no conteúdo latente de Vidas Secas faz-se necessário entender e conhecer o autor por trás da obra.

Como em nenhum outro escritor brasileiro, a obra de Graciliano Ramos confunde-se com a vida do autor. É de se notar e destacar principalmente, os textos autobiográficos de Infância e mesmo sua vasta correspondência no volume Cartas, onde encontramos não apenas a referência direta a inúmeras personagens de seus romances , como indícios da composição dessas figuras que há muito integram a vida ficcional da literatura brasileira.

Caminhando nessa direção, começo por destacar alguns fatos que ajudam a esclarecer e, em alguns casos, a questionar a obra canonizada do autor (Vidas Secas e São Bernardo), e a nos perguntar o porquê da ausência no cânone de, a meu ver, suas obras mais vigorosas: Infância, Angústia e Memórias do cárcere.

No presente estudo ater-me-ei ao pequeno grande romance (ou novela) publicado em 1938, Vidas Secas.

O VELHO-MENINO GRAÇA

Graciliano Ramos ingressa na literatura por um caminho no mínimo inusitado, de viés. Em 1927 é eleito para a prefeitura da Palmeiras dos Índios/AL, e é através da remessa de relatórios de trabalho ao governador do Estado que tem, pela primeira vez, constatado o seu talento com a escrita. O poeta Augusto Frederico Schmidt, tendo acesso, em 1930, ao segundo relatório enviado pelo prefeito Graciliano Ramos, solicita-lhe que envie alguns inéditos. Nessa época, Graciliano Ramos já tinha escrito alguns sonetos de discutível qualidade, publicados em O Malho, um pequeno jornal do Rio de Janeiro, e no Correio de Maceió, além de já trazer terminada sua primeira narrativa de fôlego, o romance Caetés, de evidente inspiração em Eça de Queiroz e Machado de Assis. Neste romance já se pode perceber, latente, a qualidade do escritor.

Ainda nesse profícuo ano de 1930, Graciliano renuncia à prefeitura de Palmeiras dos Índios e é agraciado, pelo governador do Estado, com o cargo de Diretor da Imprensa Oficial do Estado. Um jornal da época comenta esse episódio da seguinte maneira:

O nosso querido amigo senhor Graciliano Ramos, acaba de ser nomeado, em data de anteontem, pelo exmo. Sr. Governador do Estado, para o cargo de diretor da Imprensa Oficial do Estado. O nome do brilhante patrício, que vem de realizar uma administração admirável no município de Palmeira dos Índios, onde reside, é largamente conhecido e festejado entre nós. Nomeado para um cargo de confiança imediata do governador do estado, o admirado confrade recebe um prêmio à sua generosidade e inteligência, tão destacadamente reveladas no desempenho do mandato de prefeito do município .


Em outubro desse mesmo ano, Getúlio Vargas sobe ao poder com a revolução de 30. Em 1932, Graciliano volta a Palmeiras dos Índios, demite-se do cargo de Diretor de Imprensa e começa a escrever São Bernardo. No ano seguinte tem publicado seu primeiro romance, Caetés, e é nomeado para novo cargo público: Diretor da Instrução Pública de Alagoas.
Em 1934, mesmo ano da Intentona Comunista, é publicada, nas palavras do cânone, sua obra-prima São Bernardo, e no ano seguinte ele começa a escrever Angústia, que será publicado em agosto de 1936.

É importante a marcação desses eventos na vida do autor, uma vez que sua obra envolve julgamentos político-ideológicos que, a meu ver, não correspondem totalmente à realidade. Graciliano Ramos é tido pelo cânone, sua crítica e seus expoentes, como um autor de esquerda; que seus textos são exemplares da mais genuína literatura “comunista” no Brasil e que, apesar de o próprio autor ter rejeitado o ideário do chamado “realismo socialista”, seus textos trazem a marca dessa narrativa, através da denúncia e da exposição dos problemas nacionais.

Essa interpretação simplista do cânone, que é repassada nas escolas do país, engendra uma estratégia no mínimo míope do sistema. Na tentativa, até aqui bem sucedida, de catalogar o texto “gracilianista” como um texto de esquerda, esquecem, maquiavelicamente, de destacar o evidente caráter pessimista do autor, algo que, por si só, o distingue e o afasta de qualquer texto que se poderia chamar de narrativa socialista. Em Graciliano o que se percebe é a ausência do típico herói marxista, que aponta uma direção, uma alternativa à miséria, a redenção do homem sobre a terra, que cresce e transcende sua classe, seu meio. As personagens de Graciliano Ramos transitam entre o mais puro fatalismo pessimista (Fabiano e sua família são o exemplo maior desse caráter melancólico) e a impotência e a covardia (Luís da Silva em Angústia). “Os livros de Graciliano Ramos se concatenam num sistema literário pessimista [...] todos obedecem a uma fatalidade cega e má [...] A vida é um mecanismo de negaças em que procuramos atenuar o peso inevitável dessas fatalidades: e parecemos ridículos, maus, inconseqüentes.”

Essas facetas das personagens de Graciliano Ramos encontram seu vínculo com o próprio perfil psicológico do homem Graciliano. Com a publicação de Infancia, em 1945, muito do que se desconfiava acabou se revelando: o universo ficcional do velho Graça (como era conhecido) era a projeção de experiências reais do autor. A infância torturada do menino Graciliano, oprimido pelo pai, relegado pela mãe, despido de carinho e atenção, tudo isso vai moldar sua visão do mundo e das relações sociais. Segundo Antonio Cândido, “Dos escritores brasileiros contemporâneos talvez nenhum outro haja desenvolvido sentimento mais profundo, [...] de que a norma é o mal' . Daí porque suas personagens serem indivíduos revoltados, mas de uma revolta inócua, sem perspectivas de mudança; são homens de baixa auto-estima, de almas pobres e covardes, impotentes diante do poder e do sistema, massacrados pela sociedade e pelo meio, com extrema dificuldade de comunicação com seus pares, homens secos, sem carinho e sem afetos. “No fundo desse pessimista desencantado há com efeito uma insatisfação permanente por viver em sociedade tão incapaz de organizar segundo o ideal”, diz-nos ainda Antonio Cândido . Luís da Silva, Fabiano, João Valério, Paulo Honório são, todos eles, de uma maneira ou de outra, o próprio Graciliano berrando inutilmente suas cicatrizes de infância.

Preso injustamente sob a acusação de ser comunista, coisa que realmente não o era em 1936 , Graciliano é afastado do cargo de Diretor de Instrução Pública e passa por prisões em Maceió e Recife, de onde segue de navio até o Rio de Janeiro. A experiência na prisão é brutal e deixará marcas profundas no escritor, além de lhe render sua obra máxima Memórias do cárcere, que será publicada após sua morte.

Pressionado por escritores (José Lins do Rego, Jorge Amado, Raquel de Queiroz, etc), homens públicos e famosos da época, o governo, não encontrando nada que incriminasse o autor, concede sua liberdade em 10 de janeiro de 1937, mesmo ano em que Getúlio Vargas decreta e impõe o que a história convencionou chamar de Estado Novo, na realidade uma ditadura com marcada inspiração fascista. Ainda neste mesmo ano, com evidente ironia, é-lhe concedido o prêmio Lima Barreto pela obra, e a Revista Acadêmica , uma publicação de vanguarda com posições antifascistas e de esquerda, sem vínculos partidários, lhe dedica uma edição especial.

Nessa época, sem emprego fixo, sobrevive às expensas de pequenos trabalhos em jornais e revistas, escrevendo resenhas e, pela primeira vez, contos. Publica em um jornal argentino (La Prensa) um pequeno conto, Baleia, aquele que dará origem um ano mais tarde ao romance objeto deste estudo. Em carta enviada à sua esposa Heloísa, o autor nos diz que “Escrevi um conto sobre a morte de uma cachorra, um troço difícil, como você vê: procurei adivinhar o que se passa na alma de uma cachorra. Será que há mesmo alma em cachorro? Não me importo. O meu bicho morre desejando acordar num mundo cheio de preás.”

A situação financeira do escritor, em 1939, ainda era insustentável . Desdobrava-se em pequenos “bicos” em jornais e revistas, fazia revisão de textos, escrevia contos, resenhas, e reclamava demasiadamente de sua parca condição financeira. Ciente dos problemas que afligiam Graciliano, Carlos Drummond de Andrade, à época Chefe de Gabinete do Ministro da Educação de Vargas, Gustavo Capanema, consegue que seja nomeado Inspetor de estabelecimentos de ensino secundário do Distrito Federal.

Essa vinculação do autor de esquerda, como quer o cânone, e o poder fascista do Estado Novo, à primeira vista é totalmente estranha e inadequada. Pode-se , com certeza, entendê-la, na medida em que se aceita o fato de que não havia ao escritor em dificuldades financeiras outra alternativa naquele momento . Ou havia? Pergunto aqui. Sim, pode haver entendimento, mas não justificação aparente, uma vez que se tratava de uma ditadura, e não se justifica a participação de um homem que , há dois anos, havia sofrido as duras penas da cassação de sua liberdade justamente por decisão do mesmo regime que agora o contratava.

Na realidade o que esse fato traz à tona é uma discussão puramente ética que, em seu bojo, nos permite discutir os meandros pelos quais trilha o cânone na apropriação de obras e autores. O que quero afirmar aqui é que, quando o cânone elege um autor como Graciliano Ramos, ou mesmo Jorge Amado, e tenta lhes impingir a pecha de autores de esquerda, comunistas, o que ele na realidade esconde é justamente aquilo que acaba por demonstrar nesses autores a ausência de “esquerdismo” e comunismo. Ou seja, essa ligação do homem com o poder não é do interesse do sistema que seja revelada. Sua estratégia é validar a permanência de suas obras no cânone, dando a impressão de que a escolha das “grandes obras” se dá de maneira apolítica, ou seja, que existe espaço democrático, que tudo é feito em nome da arte, pela arte e para a arte. Como resultado disso, obras ruins perpetuam-se numa glória vazia que é repassada, geração por geração, e outras, que poderiam ocupar o seu lugar, pelo simples motivo de não dialogarem com o sistema, da forma que eles desejariam, caem no ostracismo, quando não se lhes impingem a marca de “obras menores”. E isso se dá com o próprio Graciliano Ramos, uma vez que obras de sua autoria, mais instigantes e vigorosas, como Memórias do cárcere, Infância e Angústia, onde fica mais evidente o papel repressor do estado, da família e da sociedade, não integram a lista sacramentada pela crítica.

Em 1941 sai A Terra dos meninos pelados, livro com o qual é premiado pelo MEC na categoria de literatura infanto-juvenil. Nesse mesmo ano é convidado pelo jornalista Almir Andrade para escrever artigos para a revista Cultura Política. É conveniente esclarecer essa participação do escritor nesse periódico, uma vez que essa revista fazia parte da estratégia de propaganda do Estado Novo que , à época, tinha como objetivo “atrair setores letrados a seu serviço: católicos, integralistas, autoritários, esquerdistas disfarçados ocuparam cargos e aceitaram vantagens que o regime oferecia. Eram homens com histórias diversas, como: [...] Almir Andrade, advogado e jornalista, diretor da revista Cultura política;”

Essa revista vinha cobrir uma nova frente de propaganda do estado, uma vez que este já detinha o controle de rádios, jornais, além de organizar grandes manifestações populares com a apresentação de grandes concertos musicais.

O complexo de doutrinação sob a égide do DIP englobava o rádio (“Voz do Brasil” e Rádio Nacional), os cinejornais inspirados nos congêneres alemães e italianos, a música (grandes concentrações orfeônicas em datas nacionais), os jornais encampados pela União (“A Manhã”, “A Noite”, “A Noite Ilustrada” e “O Estado de São Paulo”) e o sistema escolar (reformulação de currículos, obrigatoriedade do ensino cívico e distribuição de milhões de cartilhas, autênticos manuais de propaganda)

O que atraiu muitos escritores e intelectuais a participarem dessa revista foi, sem sombra de dúvidas, o pagamento que lhes era oferecido. Graciliano escreveu artigos para a Cultura Política durante todo o tempo em que esta circulou, de 1941 a 1944.

Em 18 de agosto de 1945, no final do Estado Novo de Getúlio Vargas, Graciliano Ramos ingressou oficialmente no Partido Comunista, e nessa condição é convidado para ir à Rússia e Checoslováquia, de abril a junho de 1952, conhecer as mudanças proporcionadas pelo comunismo nesses países. Dessa visita resulta um livro-relato póstumo, Viagem, em que expressa, com uma simplicidade impecável, suas impressões acerca do novo regime. Um trabalho que não foi revisto, porque a viagem estafante acelerou-lhe a doença fatal que o levaria à morte em 20 de março de 1953. Nesse mesmo ano é publicado Memórias do cárcere.

AS VIDAS SECAS



“É meticuloso. Quer eliminar tudo o que não é essencial: as descrições pitorescas, o lugar-comum das frases feitas, a eloqüência tendenciosa. Seria capaz de eliminar ainda páginas inteiras, eliminar os seus romances inteiros, eliminar o próprio mundo.” Assim se refere à prosa gracilianista Otto Maria Carpeaux em famoso ensaio. E essa afirmação vem ao encontro do que se lê em Vidas secas, onde o autor exercita toda a sua secura narrativa, compondo através de uma linguagem áspera e objetiva o cotidiano medíocre e miserável dos flagelados da seca nordestina.

A idéia geral que se tem do tema do romance, que é reproduzida por todos os ensaios, trabalhos e até por livros didáticos de segundo grau, é de que Vidas secas é a narrativa do drama vivido por uma família de pobres nordestinos em face da terrível situação provocada pelo meio hostil, a seca destruindo vidas, provocando desgraças, oprimindo o homem. Este sim é o conteúdo manifesto da obra; esta é, a priori, a versão correta do enredo do romance. É o que surge à leitura desatenta, o que salta aos olhos destreinados e desinteressados em mergulhar na camada mais profunda do texto.

A seca é protagonista do romance, ela é um ser vivo de poder devastador, que a tudo testemunha, que a ninguém perdoa, ela é o grande mal que é ampliado pela própria situação social da região. E o espaço não é definido, a região é simplesmente um local geográfico qualquer, não marcado, não explícito, onde o drama da família de retirantes se oferece ao leitor. Não há indicação exato de local, pode ser a Paraíba, o sertão de Pernambuco ou Alagoas, não importa, o quadro que o autor nos apresenta em sua linguagem fria, dá-se numa região sem fronteiras, mas evidentemente nordestina e brasileira.

Mas para o presente trabalho, sacudindo um pouco a poeira desses anos todos que se acumularam sobre as interpretações do romance, interpretações estas que circularam sempre em volta desse mesmo gesto semântico, captado do conteúdo manifesto, opto por resgatar o que está latente na camada aparente do texto. De que trata realmente Vidas secas?

Como afirmei no início deste trabalho, a obra de Graciliano está totalmente atrelada à sua própria vida, ele mesmo atesta esse ponto de vista em carta enviada a Marili Ramos, em 23 de novembro de 1949: “Só conseguimos deitar no papel os nossos sentimentos, a nossa vida. Arte é sangue, é carne. Além disse não há nada. As nossas personagens são pedaços de nós mesmos, só podemos expor o que somos.” Isso nos permite, mais que em qualquer texto de outro autor, desvelar a camada mais profunda da narrativa, em busca do conteúdo latente, que pulsa vibrante esperando um olhar atento.

Vidas secas começou a ser escrito em 1937, sem nenhum planejamento intencional de um romance, mas apenas um pequeno conto, Baleia, encomendado por um tradutor argentino para publicação naquele país. Nessa época, recém liberto e passando por sérias dificuldades financeiras, a idéia de começar a escrever pequenos contos e vendê-los a jornais era mais que bem-vinda ao autor, e nisso mergulhou com afinco. Assim teve início o pequeno romance objeto deste estudo, um pequeno texto sobre a morte de uma cachorra. Atendendo a pedido de José Olympio, a quem devia a publicação de um novo livro, Graciliano pôs-se a compor as demais pequenas histórias que, juntas, finalmente, formariam Vidas secas.Em carta enviada a José Condé, em junho de 1944, Graciliano explica a estruturação do romance:

Publicada a história, não comprei o jornal e fiquei dois dias em casa, esperando que os meus amigos esquecessem “Baleia”. O conto me parecia infame e surpreendeu-me falarem nele. A princípio julguei que as referências fossem esculhambação, mas acabei aceitando como razoáveis o bicho, o matuto, a mulher, os garotos. Habituei-me tanto a eles que resolvi aproveitá-los de novo. Escrevi “Sinhá Vitória”. Depois apareceu “Cadeia”. Aí me veio a idéia de juntar as cinco personagens numa novela miúda – um casal, duas crianças e uma cachorra, todos brutos. .




Ainda a respeito da composição desse romance, Rubem Braga, em entrevista à revista Manchete, em 03 de outubro de 1965, declara:

Quem pega no romance logo repara. Cada capítulos desse pequeno livro dispõe de uma certa autonomia e é capaz de viver por si mesmo. Pode ser lido em separado. É um conto. Esses contos se juntam e formam um romance. Graciliano não fez assim por recreação literária. Fez por necessidade financeira. Ia escrevendo e vendendo o romance a prestação. Vendeu vários contos. Quase tão pobre como o Fabiano, o autor fez assim uma nova técnica de romance no Brasil. O romance desmontável.


Assim nasceu Vidas secas. Mas falemos pois do que significa realmente o romance, o que nos diz Graciliano através de Fabiano, Sinhá Vitória, o filho mais velho, o mais novo e Baleia? Narrado em terceira pessoa, o texto perpassa a voz do autor, suas impressões, seu mapa mental, sua maneira de ver o mundo. E sua maneira de ver o mundo traz como marca profunda o seu pessimismo exacerbado, sua descrença com a vida em sociedade, seu fatalismo irritante, frutos indubitavelmente de sua experiência de vida, do duro aprendizado do menino Graciliano Ramos.

Na formação desse menino Graciliano, que o autor optou por expor quando da redação de seu livro de memórias Infância, entram muitos instrumentos de suplício : o áspero meio sertanejo no final do século passado e início do século 20; o pai comerciante e fazendeiro, tipo rude da média burguesia urbana e rural, com um perfil de patriarca que cobra obediência cega; a mãe de poucas letras, sorrisos e minguado afeto. Repressão política do coronelismo tipo cabresto, enxada e voto. Repressão sexual. Repressão, sobretudo, à inteligência. A sensibilidade do menino ferida a todo instante, no relacionamento penoso com os pais, na escola, nas ruas, sofrendo o impacto da miséria ambiental. O menino cresce solitário e desconfiado, descrente da viabilidade do homem. Sua visão de mundo não poderia ser muito diferente, nela não há espaço para sentimentalismo, o mundo não comporta afagos, diálogos, adjetivos. Resta ao homem apenas viver, sem esperança de qualquer mudança, sua trágica sina de ser oprimido, ou opressor.

E opressão era justamente a palavra de ordem naquele ano de 1937, Getúlio Vargas impunha seu Estado Novo à nação, intensificavam-se a censura, as prisões, as retaliações. O autor ainda ressentia-se de um longo período de encarceramento, via-se sozinho no Rio de Janeiro, amargando a dura vida de desempregado. É, portanto, nesse clima pouco pacífico, que vem a luz Vidas secas.

O que sobressai, portanto, do texto, oculto na aparente capa de um romance regional que relata as agruras da seca, é a alegoria da opressão efetivada por um regime autoritário sobre o homem simplório. O verdadeiro gesto semântico em Vidas secas, resgatado de seu conteúdo latente, é a exposição do esfacelamento do indivíduo diante da tirania. Para isso, Graciliano Ramos, inconscientemente ou não, elaborou todo um cenário que remete o leitor desatento à tragédia natural da seca sobre a população de uma região feudal nordestina. Essa é a estratégia do autor, exposta e canonizada pela crítica, para encobrir algo mais profundo: a opressão e o oprimido. Antonio Cândido aproximou-se, como nenhum outro ensaista da obra de Graciliano, dessa interpretação que tento sustentar aqui. Referindo-se ao autor, ele diz: “é um negador pertinaz dos valores da sociedade e das normas decorrentes [...] em Vidas secas [esses valores] constituem o aparelho de opressão do pobre.”

E como se manifesta essa opressão? Como a tirania age em Vidas secas? Uma das características mais evidentes do romance é a incomunicabilidade das personagens. Utilizando uma linguagem seca, áspera e, em certas passagens, poética, quase toda produzida em monólogos interiores pelas personagens, inclusive os animais, Graciliano vai apresentando toda a família de retirantes, à medida que o texto avança. O cuidado em focalizar cada um dos personagens isoladamente indica a solidão a que estão submetidos. Apesar de partilharem misérias, afeições e espaços comuns, as personagens vivem entregues ao seu próprio abandono, já que não conseguem articular mais do que rudes palavras, exclamações, insultos, interjeições. Este é um fato emblemático do romance: a solidão e a total falta de comunicação entre as personagens. E esse é justamente o indício da ação funesta da opressão sobre o indivíduo.

Segundo Hannah Arendt, “o terror só pode reinar absolutamente sobre homens que se isolam uns contra os outros e que, portanto, uma das preocupações fundamentais de todo governo tirânico é provocar esse isolamento.[...] os homens isolados são impotentes por definição.” A impotência é a marca epidérmica de Fabiano. É sintomática a sua covardia, a sua baixa-estima, fruto de uma vida de desmandos e miséria. A composição da personagem envolve certamente a experiência de vida do autor.

Fabiano é a própria frustração, o exemplar de indivíduo entregue à sua insignificância. E ele tem consciência de sua situação, sabe que não tem forças para assumir sua humanidade:

E, pensando bem, ele não era homem: era apenas um cabra ocupado em guardar coisas dos outros. Vermelho, queimado, tinha os olhos azuis, a barba e os cabelos ruivos; mas como vivia em terra alheia, cuidava de animais alheios, descobria-se, encolhia-se na presença dos brancos e julgava-se cabra. (Vidas secas, p.19)

Sua total falta de esperança faz com que não mova uma palha sequer para mudar seu futuro. Neste ponto, Vidas secas não guarda qualquer matiz que possa indicá-lo como um texto que integre uma narrativa de cunho marxista. Fabiano é puramente um fatalista: “Coçou o queixo cabeludo, parou, reacendeu o cigarro. Não, provavelmente não seria um homem: seria aquilo mesmo a vida inteira, cabra, governado pelos brancos, quase uma rês na fazenda alheia.” (Vidas secas, p.26)

Como se não bastasse ser fatalista, pessimista, Fabiano é covarde e, dessa forma, assume o papel de oprimido que lhe cabe nesse mundo “gracilianesco” de opressores e oprimidos:


Aí Fabiano baixou a pancada e amunhecou. Bem, bem. Não era preciso barulho não. Se havia dito palavra à toa, pedia desculpa. Era bruto, não fora ensinado. Atrevimento não tinha, conhecia o seu lugar. Um cabra. Ia lá puxar questão com gente rica? Bruto, sim senhor, mas sabia respeitar os homens. (Vidas secas, p.99)

Mas Fabiano ainda pensa, ainda mede suas atitudes. Ele sabe que poderia tomar outro caminho, chamar para si a responsabilidade de sua vida e dessa forma mudá-la, mas ele está impotente diante de um servilismo atávico. Diante do soldado amarelo, símbolo concreto da opressão, elemento caracterizador da repressão do Estado, Fabiano, de facão em punho, mais uma vez opta pela sua insignificância. Sua capacidade de agir há muito se perdeu, destruída pela opressão que lhe envolve:

Era um infeliz, era a criatura mais infeliz do mundo. Devia ter ferido naquela tarde o soldado amarelo, devia tê-lo cortado a facão. Cabra ordinário, mofino, encolhera-se e ensinara o caminho.[...] Pobre dele. Estava então decidido que viveria sempre assim? Cabra safado, mole. Se não fosse tão fraco, teria entrado no cangaço e feito misérias. (Vidas secas, p.118)

A estratégia do isolamento como arma dos regimes autoritários tem seu lugar em Vidas secas. Aqui, a família é apenas um grupo de pessoas fugindo do terror, sem diálogo e sem esperança. A ausência de comunicação é que acaba por proporcionar um episódio da mais fina ironia no texto. O filho mais velho tenta aprender uma nova palavra: inferno, e é rechaçado pela mãe.

Como não sabe falar direito, o menino balbuciava expressões complicadas, repetia as sílabas, imitava os berros dos animais, o barulho do vento, o som dos galhos que rangiam na caatinga, roçando-se. Agora tinha tido a idéia de aprender uma palavra, com certeza importante porque figurava na conversa de Sinha Terta. Ia decorá-la e transmiti-la ao irmão e à cachorra. Baleia permaneceria indiferente, mas o irmão se admiraria, invejoso. – Inferno, inferno. (Vidas secas, p.62)

Para o menino mais velho essa palavra tão bonita não poderia significar algo ruim. O que ele não percebe, e nunca vai perceber, é que inferno é justamente a situação em que vivem. Graciliano usa da mais fina ironia ao colocar na boca da criança, que em outro texto poderia significar o futuro enquanto possibilidade de mudança para melhor, o encanto pela palavra que significa justamente o que têm passado as personagens, um cotidiano abrasador, de mazelas e miséria absoluta.

Podemos inferir que Graciliano, um intelectual, homem de letras, tenha criado a figura de Seu Tomás da bolandeira para destilar um pouco mais dessa ironia cruel. Em face da opressão, a consciência e a formação intelectual que a possibilita, são ineficazes ou mesmo impotentes. Outra leitura possível, e essa envolvendo julgamentos políticos, é a de que a passagem em que o autor se refere a Seu Tomás da bolandeira nada mais é que sua descrença no conhecimento como melhoria do homem, o que nos levaria a desprezar a formação intelectual em detrimento da força física, como forma de resistência ao terror. Seu Tomás da bolandeira é o estereótipo da fragilidade diante de algo maior e poderoso:

Lembrou-se de Seu Tomás da bolandeira. Dos homens do sertão o mais arrasado era Seu Tomás da bolandeira. Por quê? Só se era porque lia demais. Ele, Fabiano, muitas vezes dissera: - “Seu Tomás, vossemecê não regula. Para que tanto papel? Quando a desgraça chegar, Seu Tomás se estrepa, igualzinho os outros.” Pois viera a seca e o pobre do velho, tão bom e tão lido, perdera tudo, andava por aí, mole. Talvez já tivesse dado o couro às varas, que pessoa como ele não podia agüentar verão puxado. (Vidas secas, p.23)

Para Fabiano, acostumado a ouvir ordens, era de se estranhar os bons modos de Seu Tomás, destoando do ambiente em que vivia:

Seu Tomás da bolandeira falava bem, estragava os olhos em cima de jornais e livros, mas não sabia mandar: pedia. Esquisitice um homem remediado ser cortês. Até o povo censurava aquelas maneiras. Mas todos obedeciam a ele. Ah! Quem disse que não obedeciam? (Vidas secas, p.24)

Mas em Vidas secas nem tudo é desesperança. Oculta nas figuras femininas do romance está, pequena mas latente, a fé em algo melhor. É interessante notar que justamente na cachorra Baleia o autor vai concentrar e declarar com todas as letras a existência de uma crença revolucionária. Porque numa cachorra e não no ser humano? E mais ainda, porque justamente Baleia será assassinada por Fabiano? Logo ela que nas mais críticas situações atravessadas pela família é que garantia sua sobrevivência caçando preás? É conveniente discutirmos um pouco esse tema, uma vez que ele nos possibilita leituras díspares e mesmo conflitantes. Baleia, que todos tratavam a pontapés, é fiel e acredita em algo melhor:

A cachorra Baleia acompanhou-o naquela hora difícil. Repousava junto à trempe, cochilando no calor, à espera de um osso. Provavelmente não o receberia, mas acreditava nos ossos, e o torpor que a embalava era doce. Mexia-se de longe em longe, punha na dona as pupilas negras onde a confiança brilhava. Admitia a existência de um osso graúdo na panela, e ninguém lhe tirava essa certeza, nenhuma inquietação perturbava os desejos moderados. Às vezes recebia pontapés sem motivo. Os pontapés estavam previstos e não dissipavam a imagem do osso. (Vidas secas, p.58)


Essa esperança canina é partilhada por Sinhá Vitória; nesse sentido se assemelham, se unem numa crença que as personagens masculinas do romance não têm:

Dentro de pouco tempo estaria magra, de seios bambos. Mas recuperaria carnes. E talvez esse lugar para onde iam fosse melhor que os outros onde tinha estado. Fabiano estirou o beiço, duvidando. Sinhá Vitória combateu a dúvida. Porque não haveriam de ser gente, possuir uma cama igual à de Seu Tomás da bolandeira? Fabiano franziu a testa: lá vinham os despropósitos. Sinhá Vitória insistiu e dominou-o. Porque haveriam de ser sempre desgraçados, fugindo no mato como bichos? Com certeza existiam no mundo coisas extraordinárias. Podiam viver escondidos como bichos? (Vidas secas, p.129)


Os ossos para Baleia e a cama para Sinha Vitória, são emblemas da vida melhor, da mudança, da possibilidade de um futuro menos trágico e miserável. O que as distingue é a ação. Sinha Vitória busca seu sonho fugindo da situação que a massacra, arrastando o marido para outro lugar, empurrando a sujeira para debaixo do tapete da caatinga. Baleia, pelo contrário, contra tudo e todos nutre “sentimentos revolucionários” (Vidas secas, p.42). Mas esses sentimentos revolucionários não lhe salvarão a pele, primeiro da doença que a torna abjeta, digna de repugnância, e depois das balas que Fabiano desfere sobre ela.

Uma leitura possível desse episódio é a de que, sob um regime tirânico, opressor, a figura de marginais revolucionários é tida como abjeta. Esses indivíduos, como Baleia, são escorraçados violentamente, enviados à Sibéria, despachado para alto mar pelos aviões do CENIMAR, enterrados em covas rasas em cemitérios clandestinos. Baleia é o emblema dos “revolucionários” que ousaram enfrentar a ditadura de Vargas, o nazi-fascismo europeu, o comunismo stalinista. Fabiano é mero instrumento do Estado na limpeza política que se faz necessária. Baleia é sacrificada pois sua presença ameaça a família, não mais sua salvação . Ela porta agora na própria pele os sinais de sua desgraça e por isso deve morrer.

É de se considerar outra leitura, presumindo-se que o cânone, assentado sobre valores eminentementes de direita, uma vez que toda a crítica e intelectualidade que o formula integram a elite, a oligarquia tupiniquim. O fato de a única personagem revolucionária ser um animal pode ser lido como analogia revolução/animais. Mais ainda, é possível, e mesmo provável, que a leitura dessa passagem envolva uma estratégia de menosprezar, e mesmo ridicularizar, aqueles que, como Baleia, acreditam numa outra via para o país.

A opressão não tem rosto visível, ela é sentida na pele, pressente-se sua chegada, ela simplesmente está. Fabiano e sua família convive diariamente com ela e mesmo quando sua face mais aparente, o policial amarelo, se faz notar, Fabiano não o reconhece pois em sua visão enviesada e alienada, tudo que lhe cerca é fruto da maldade humana, pura e simples, e governo algum seria capaz de cometer barbaridades:

E, por mais que forcejasse, não se convencia de que o soldado amarelo fosse governo. Governo, coisa distante e perfeita, não podia errar. O soldado amarelo estava ali perto, além da grade, era fraco e ruim, jogava na esteira com os matutos e provocava-os depois. O governo não devia consentir tão grande safadeza. (Vidas secas, p.35)


CONCLUSÃO – OS FUTUROS FABIANOS


A ingenuidade de Fabiano beira o ridículo, mas não há como se cobrar de um indivíduo como ele uma postura diferente. Ainda hoje, é possível ouvir o mesmo argumento utilizado por Fabiano, em bocas de carne e osso. Como se a oligarquia destas terras celebrassem indefinidamente sua sobrevivência. O que se observa é que ela tem se utilizado da literatura, através do cânone, para manter sua sobrevida na sustentação de certas obras, e mesmo na deturpação de determinados textos. É óbvio que determinadas narrativas, em sua maioria excluídas das salas de aula do país, as incoerências do sistema são apontadas, e nesse desvelamento provocam sérios danos em sua estrutura. Essas obras, relegadas ao esquecimento, ao contrário daquelas celebradas através de prêmios e seus autores catapultados a gênios da raça e imortalizados na Academia, estão a requerer um resgate imediato que exige de nós, pesquisadores da literatura, táticas de guerrilha cultural, mesmo sabendo que tal atitude possibilita uma espécie de suicídio intelectual, uma vez que o sistema tratará evidentemente de excluir nossa voz, numa aproximação com o episódio do assassinato de Baleia.

Fazendo minhas as palavras do próprio autor de Vidas secas, quando diz: “O meu bicho morre desejando acordar num mundo cheio de preás. Exatamente o que todos nós desejamos. A diferença é que eu quero que eles apareçam antes do sonho, e padre Zé Leite pretende que eles nos venham em sonhos, mas no fundo todos somos como a minha cachorra Baleia e esperamos preás.” , opto por acreditar ser possível enfrentar o sistema, utilizando a arma que a Seu Tomás da bolandeira foi negada pelo autor: a leitura de grandes textos que acima de tudo nos possibilite desmantelar toda essa estrutura de opressão que tem grassado em nossas vidas. E, principalmente, para que possamos evitar que os milhões de Fabianos, Sinhá Vitória e família, tenham como único consolo fugir esfomeados pela caatinga em busca de outras regiões, o sul maravilha. Esse processo cíclico que tem se repetido e que Vidas secas insiste em validar: “E o sertão continuaria a mandar gente para lá. O sertão mandaria para a cidade homens fortes, brutos, como Fabiano, Sinha Vitória e os dois meninos. (Vidas secas, p.134)





NOTAS
1 RAMOS, Graciliano – Vidas secas. 34a ed. Rio, São Paulo: Record. P. 9
2 Graciliano, em carta a José Condé, datada de junho de 1944, refere-se à composição de Baleia, conto que é a matriz do romance Vidas secas: “No começo de 1937 utilizei num conto a lembrança de um cachorro sacrificado na Maniçoba, interior de Pernambuco, há muitos anos. Transformei o velho Pedro Ferro, meu avô, no vaqueiro Fabiano; minha avó tomou a figura de sinhá Vitória, meus tios pequenos, machos e fêmeas, reduziram-se a dois meninos”. In O Cruzeiro, junho/1944.
3 Publicado no Jornal de Alagoas, em 01/06/1930
4 CÂNDIDO, Antonio. Ficção e confissão, 1955
5 id.
6 id.
7 Graciliano Ramos filia-se ao Partido Comunista Brasileiro em 1945.
8 O Conselho diretor da revista era composto, dentre outros, por Aníbal Machado, Mário de Andrade, Artur Ramos, José Lins do Rego e Rubens Braga.
9 RAMOS, Graciliano – Cartas. Rio de Janeiro: Record.1984. p.201
10 “Nestes últimos meses tenho levado uma vida muito semelhante a do meu Luis da Silva, um pouco pior que a dele. Talvez essa medonha encrenca determine um pouco deste pessimismo. Que quer você? Não consigo separar as minhas desgraças miúdas das obras, as grandes, e o resultado é este: vingo-me na literatura, que até hoje só me tem rendido aborrecimentos, prisões, inimigos, calúnias.” Carta enviada por Graciliano Ramos, em junho de 1939, ao escritor paraense Dalcídio Jurandir.
11 “Nenhum de nós estranhou ou cobrou isso dele porque o Graça tava precisando muito, era um cargo técnico, completamente apolítico.” , afirmaria Raquel de Queiroz.
12 FAUSTO, Boris. História do Brasil. Edusp, p.376
13 MAIA, Ana Luiza Montavão. O Contista Graciliano Ramos: A introspecção como forma de perceber e dialogar com a realidade. Tese de mestrado: Brasília, 1993, p.62
14 “a remuneração era das mais compensadoras – de duzentos a quatrocentos mil-réis por matéria -, com a certeza de pagamento em dia.” Id., p.63
15 CARPEUAUX, Otto Maria. Visão de Graciliano Ramos.
16 RAMOS, Graciliano – Cartas. Rio de Janeiro: Record, 1984. p.213
17 Revista O Cruzeiro, junho de 1944
18 op.cit.
19 ARENDT, Hannah – Origens do totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1989, p.526
20 RAMOS, Graciliano – Cartas. Record. P.201





BIBLIOGRAFIA


ARENDT, Hanna – Origens do totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
CARPEAUX, Otto Maria - Visão de Graciliano Ramos.
FAUSTO, Boris – História do Brasil. 4.ed. São Paulo, Editora da USP,1996
KOTHE, Flavio René – Literatura e sistemas intersemióticos. São Paulo: Cortez, 1981.
___________ - O Cânone colonial. Brasília: Editora UnB, 1997.
MAIA, Ana Luiza Montalvão – O contista Graciliano Ramos:a introspecção como forma de perceber e dialogar com a realidade. Dissertação de mestrado. Universidade de Brasília, 1993.
RAMOS, Graciliano – Cartas. Rio de Janeiro: Record, 1984.
___________ - Vidas secas. Rio de Janeiro: Record, 1975.
SANTANA, Afonso Romano de – Análise estrutural de romances brasileiros. 2.ed.
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